15 anos do Fundo Dema: luta e resistência na Amazônia
Por Élida Galvão
| O plantio de mudas em diversas áreas do Centro de Formação Betânia simbolizou um marco para o reflorestamento
Foi voltando ao seu lugar de origem que o Fundo Dema celebrou seus 15 anos. A comemoração ocorreu no período de 11 a 13.09, em Altamira, no Oeste do Pará, reunindo cerca de 150 pessoas no Centro de Formação Betânia. Além de rememorar a trajetória de atuação do fundo, a atividade teve como foco o fortalecimento do movimento agroecológico e a contribuição para o reflorestamento da Amazônia com o plantio de espécies frutíferas e florestais nativas deste bioma, em especial o mogno.
O encontro iniciou com uma mesa de abertura onde estiveram presentes Ana Paula Souza, militante do Fundo Dema desde sua origem, tendo passado pelo Comitê Gestor, e atual discente da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Altamira; representantes do Comitê Gestor do Fundo Dema na região da Transamazônica, José Ripardo, membro da Fundação Viver, Produzir e Preservar e Ir. Benedita Pereira, membro da Prelazia do Xingu; Aldebaram Moura, da coordenação da Federação de Órgãos para Assistências Social e Educacional (FASE) – Programa Amazônia.
Em meio à programação, dezenas de mártires foram lembrados pela doação da vida em defesa da Amazônia e de seus povos, mas que se perpetuam como sementes de perseverança, de justiça e libertação, como afirmou Pe. José Boing, entre eles/as foram lembrados/as Irmãs Dorothy, Cleusa, Adelaide, Marçal Guarani, Santos Dias, Brasília, Margarida Alves, Padres Josimo, Tore e Ezequiel Ramim, Dom Oscar Romero, José Cláudio e Maria do Espírito Santo, Chico Mendes, Chicão Xucuru e Ademir Federicci, o Dema, a quem o nome do Fundo homenageia.
Reflorestando a Amazônia
Antes da realização do encontro, uma grande campanha voltada à doação de sementes crioulas e de mudas foi realizada nos territórios de atuação do Fundo Dema (Transamazônica, BR 163, Baixo Amazonas e Nordeste Paraense). A perspectiva inicial era de 8 mil mudas plantadas, no entanto, ainda em meio à mobilização de iniciativa do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores a Agricultoras Familiares de Altamira, com o apoio do Fundo Dema, é possível que o alcance da distribuição de sementes crioulas tenha ultrapassado 16 mil. Isso porque muitos participantes levaram centenas de sementes e muitos outros doaram mudas já para o plantio.
| Centenas de sementes crioulas de mogno foram doadas para o plantio em todas as áreas de atuação do Fundo Dema
Um dos momentos mais aguardados da programação foi o plantio de mudas. Um ato simbólico reforçou a luta e a resistência em defesa do meio ambiente. Em meio ao território do Centro de Formação Betânia foram plantadas mudas, como um marco inicial da campanha de reflorestamento da Amazônia, de forma a reparar os danos ambientais provocados pelo desmatamento na região, com destaque às seis mil toras de mogno apreendidas à época originária do Fundo Dema.
Agroecologia na Amazônia
Vânia Carvalho, educadora do Fundo Dema e Rosa Godinho, do Comitê Gestor, ambas integrantes da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), dialogaram com o público sobre o significado e a importância da agroecologia para as populações tradicionais da Amazônia. A agroecologia se faz diferente em cada região e se articula com várias áreas do conhecimento. A Amazônia apresenta uma série de peculiaridades econômicas, culturais, socioambientais e junto a isso, precisamos refletir sobre o acesso a políticas públicas, a segurança alimentar e nutricional e a defesa dos territórios afirmou Rosa.
Para Vânia, as consequências da produção de alimentos com base nos agrotóxicos, na fertilização química, com uma visão de monocultivos, estão ligadas à concentração de terras cada vez maior, violência no campo, uma alimentação que não é saudável e ainda dependente de sementes transgênicas, redução da biodiversidade, da qualidade do solo e dos rios.
As populações tradicionais são as mais vulneráveis ao desequilíbrio ambiental, à falta de políticas públicas e à violência no campo. […] Somente com esse mutirão de amigos e amigas do Fundo Dema é que a gente consegue se articular melhor. Este fundo vê os povos e comunidade tradicionais da Amazônia como agentes fundamentais para a sociedade, são protagonistas da luta em defesa da Amazônia. Promovem a agroecologia por meio de seus conhecimentos científicos e tradicionais, considerou.
Luta e resistência na Amazônia
| Maria da Penha, viúva de Dema, recebeu homenagem com artesanato produzido pelo casal Osvalinda e Daniel
No segundo dia do encontro, agricultores/as familiares de projetos apoiados pelo Fundo Dema expuseram produtos na feirinha montada na orla de Altamira, às margens do rio Xingu. Todos feitos artesanalmente, entre eles adereços indígenas e bancos em formato de animais amazônicos, produzidos pelo casal Osvalinda Maria e Daniel Alves, da comunidade Areia II, no município de Trairão. Nós produzimos estes bancos com madeira caída, sem qualquer ação de desmatamento, destaca
O encontro contou com a presença de Maria da Penha Federicci, viúva de Dema, que acompanhou toda a programação, inclusive o ato público que afirmou a força, a luta e a resistência deste mártir.
Carta dos 15 anos
Durante as atividades da programação, os participantes construíram uma linha do tempo rememorando a trajetória de luta do Fundo Dema desde a sua origem e ainda levantaram questões e traçaram perspectivas para os anos seguintes, focando na multiplicação de apoio aos povos da Amazônia e no fortalecimento da agroecologia na região. O resultado dos diálogos culminou na construção coletiva da carta dos 15 anos do Fundo Dema, intitulada Fundo Dema 15 anos de apoio a iniciativas do Bem Viver na Amazônia
ACESSE A CARTA DOS 15 ANOS DO FUNDO DEMA
VEJA ALGUNS AMIGXS DO FUNDO DEMA
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