8 de Março | Mulheres ocupam as ruas de Belém pela garantia de direitos
Por Élida Galvão
Fundo Dema
Com faixas, cartazes, palavras de ordem e muita agitação milhares de mulheres ocuparam as ruas do centro de Belém nesta quarta-feira (08), em macha pela garantia dos direitos conquistados e contra os retrocessos e ameaças impostas pelo governo golpista de Michel Temer. Reunindo mulheres do campo, da floresta e da cidade, o ato unificou a luta de sindicalistas, da juventude, mulheres do movimento negro e de outras organizações e entidades dos movimentos sociais, entre elas indígenas, quilombolas, agricultoras e que juntas somaram forças às manifestações ocorridas em todo o mundo.
Entre as palavras de ordem entoadas, o “Fora Temer, Fora Jatene (governador) e Fora Zenaldo (prefeito)” era o que mais se repetia durante todo o percurso. A corrupção, o machismo, racismo, as desigualdades e todas as formas de violência também foram denunciados durante a marcha. Em meio a paradas com esquetes teatrais, as mulheres chegaram a ocupar o prédio da previdência social, colocando uma faixa onde se lia “Contra a Reforma da Previdência. Fora Temer”, firmando a negativa ao pacote de medidas de Temer, que retrocede nos direitos da classe trabalhadora e provoca um pacto direto na vida das mulheres.
| Aproximadamente mil pessoas participaram da marcha pelos direitos das mulheres e contra as medidas do governo golpista
Outras paradas feitas em pontos estratégicos pautaram a descriminalização do aborto e a necessidade de ampla legalização na garantia dos direitos sexuais, reprodutivos e a saúde das mulheres. Na altura do Ver-o-Peso, uma mística lembrou as vítimas de feminicídio a partir de recorte de classe e de cor, cuja realidade brasileira indica que 68,8% das mulheres mortas por violência física são negras, segundo dados do Ministério da Justiça publicados em 2015.
Mulher negra, quilombola da comunidade do Bacuri, localizada em Abaetetuba, Vera Fagundes carregava uma faixa, junto com outra companheira, pedindo o fim da violência contra as mulheres. Para a agricultora, o patriarcado e o racismo ainda são muito fortes na sociedade e se destacam como fatores limitantes para a participação política da mulher na luta pela garantia de seus direitos.
Cartazes denunciavam o aumento da violência sofrida por mulheres negras e pobres no Brasil
“A luta pelo território, pela igualdade de direitos e o enfrentamento à violência contra a mulher são as principais motivações para a nossa participação no ato. Somos mulheres negras e o racismo, o machismo, o patriarcado fazem com que a mulher tenha pouca participação política. Não estamos no mesmo nível de igualdade com os homens, nós trabalhamos dobrado, tanto na produção, quanto dentro de casa”, analisa Vera, que integra a Associação de Mulheres Quilombolas Agroextrativistas do Ramal do Bacuri, uma das comunidades acompanhadas pela Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE) – Programa Amazônia.
A massiva mobilização em mais de 40 países mostra que o feminismo tem crescido em todo o mundo e que a luta por justiça social e econômica não dará sossego aos machistas, homofóbicos, sexistas, racistas e conservadores. O recado foi dado e nenhum direito a menos será perdoado. As mulheres não arrefecerão enquanto houver motivos para continuar lutando.