Comunicadores populares trocam experiências
Por Élida Galvão
Durante os dias 23 e 24 de maio, comunicadores e comunicadoras que integram iniciativas coletivas apoiadas pelo Fundo Dema, por meio do Edital ‘Cidades Amazônicas: Floresta Viva em Movimento’, participaram de um intercâmbio de experiências durante o Encontro Regional de Comunicação Popular do Baixo Amazonas e Tapajós, em Santarém, atividade preparatória ao Fórum Social Pan Amazônico (FOSPA), a ser realizado em junho, em Belém.
Com o objetivo de dialogar sobre o papel da comunicação popular na defesa dos territórios e a importância da atuação de grupos, coletivos e organizações comunitárias em protagonizar ações políticas em defesa dos direitos humanos, sociais, econômicos, ambientais e culturais.
Durante o primeiro dia de encontro, Alícia Lobato, jornalista do Amazônia Real compartilhou experiências vivenciadas em coberturas midiáticas no âmbito do jornalismo ambiental. Segundo ela, é fundamental pensar em um diálogo acessível ao público.
“Na mídia tradicional não escutam comunidades, não vão nas periferias. Pensar em comunicação popular é dar ouvido ao que as pessoas estão falando. É importante dar espaço para as pessoas falarem sobre seus territórios, sobre os problemas que estão vivenciando. É necessário descontruir essa coisa de estar longe da fonte, o olhar de longe não consegue comunicar o que está acontecendo. Quando a gente trabalha com comunicação nos territórios, é bom a gente pensar do micro para o macro. Gosto de fazer um mapeamento do território, fazer uma lista de fonte, assim tenho, fazer uma lista de fonte, assim tenho um leque de assuntos para abordar”, pontua. “Também é importante pensar em como eu vou levar o que está sendo produzido para as pessoas que estão participando, em como as pessoas vão ser afetadas. Quando a gente trabalha no contexto de Amazônia, a gente precisa se preocupar em não colocar as fontes em risco”, destaca.
Guilherme Carvalho, coordenador da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE) – Programa Amazônia e representante da organização no Comitê Gestor do Fundo Dema, chamou a atenção para a necessidade de articular a comunicação popular em defesa dos territórios ameaçados pela exploração do capital. “O território do Baixo Amazonas tem 30 milhões de hectares. As mineradoras estão requerendo mais de 22%. Se isso acontecer vai haver um extermínio em massa de pessoas, culturas, modos de vida, um grande êxodo rural. Se a gente não tiver a batalha da comunicação, estamos perdidos. Trabalhar a comunicação numa perspectiva popular, diversa e em escala é necessário, fundamental e estratégico”.
Atuando no coletivo Guardiões do Bem Viver e na diretoria da Federação das Associações de Moradores e Comunidades do Assentamento Agroextrativista da Gleba Lago Grande (FEAGLE), Ricardo Aires compartilha sobre as estratégias de resistência e enfrentamento que a juventude do PAE Lago Grande, em Santarém, vem colocando em prática em defesa do território.
“A gente vem de uma construção de entender a nossa realidade dentro do território. A gente se constituiu como um coletivo enquanto guardiões em defesa do território, da cultura, do modo de vida, do conhecimento tradicional. Fomos dando visibilidade à campanha ‘O PAE Lago Grande Livre de Mineração’, colocando o PAE conhecido para fora. A comunicação popular traz aquilo que a gente fala. Às vezes a gente recebe a comunicação pronta, mas não é assim que a gente quer. A gente tem que produzir a nossa narrativa. Temos que lutar pelo nosso espaço de discussão”, diz Aires.
Intercâmbio de conhecimento
Em relato sobre as vivências dentro de seus coletivos e organizações, os comunicadores e comunicadoras de iniciativas apoiadas pelo Fundo Dema destacaram as formas de resistência com que trabalham a comunicação, seja por meio da arte, da cultura, do midiativismo.
Atuando no coletivo Mulheres do Hip Hop (MHH), que realiza o projeto apoiado pelo Fundo Dema ‘Grafitaço das Minas’, no estado do Mato Grosso, Lygia Viana, a necessidade de sempre discutir a conjuntura nas ações coletivas. “A gente coloca o hip hop como uma vivência, uma ideologia e as Mulheres do Hip Hop surge desse incômodo da sociedade machista, patriarcal. Começamos a compreender as violências para conseguir superá-las. Trabalhamos na perspectiva de empoderamento das mulheres através da arte”, diz. “Quando a gente traz a crise civilizatória, a gente tem que pensar que tipo de sociedade que a gente quer viver. No Mato Grosso, por exemplo, tem pesquisas que apontam que o agrotóxico já está no leite materno. O governador queria fazer de Cuiabá a cidade do agronegócio e plantar soja nos jardins, nos canteiros”, critica.
“O MST investe muito na juventude. Para nós esse debate de comunicação é fundamental. Tem um punhado de famílias que privatizam a comunicação. Essa mesma mídia está fazendo a juventude se afastar da política. Quando há uma ausência do debate, não há como mudar a realidade”, analisa Andrio Vieira, do Coletivo de Juventude do Acampamento Terra Cabana (MST Pará), que realiza o projeto em andamento ‘Rádio Comunitária Severa. “A gente vai precisar se unir. É necessário recriar a comunicação, pensar a reforma agrária no ar. A comunicação não tem que ser neutra, a nossa comunicação popular tem lado. A comunicação tem que ser formativa, não basta só denunciar, tem que haver batalha de ideias. A riqueza tem que estar a serviço do povo. Essa tem que ser a contra narrativa”, pontua.
O encontro, que contou com a participação de cerca de 40 comunicadores e comunicadoras populares, foi realizado pela articulação entre a FASE Programa Amazônia, Fundo Dema, Terra de Direitos e Tapajós de Fato.
Além de Lygia e Andrio, também estiveram intercambiando conhecimentos os comunicadores e comunicadoras representantes de projetos apoiados pelo Fundo Dema em parceria com Open Socity: Luma Rodrigues, do Coletivo Kuya; Yure Lee, da Cia de Circo Nós Tantos; Danielle Andrade e Andressa Silva, do Coletivo Kitanda Preta.