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09/04/2012
Por: Equipe Fundo Dema
Assunto: Notícias
Leitura: 3 minutos

Comunidades Quilombolas se preparam para concorrer o Fundo Dema

Dona Páscoa, liderança do Conselho Diretor da Malungu

As dificuldades enfrentadas pelas dezenas de comunidades quilombolas no Pará beiram o incontável, mas esse povo lutador conta com características únicas de organização comunitária,  coletividade e a sua relação com o meio em que vivem deveria servir de exemplo de sustentabilidade.

Durante as cinco oficinas realizadas pelo Fundo Dema, no âmbito do Fundo Amazônia, organização e senso de coletividade foram destaque. No período de 15 de janeiro a 20 de fevereiro de 2012, uma equipe multidisciplinar do Fundo Dema se reuniu com cerca de 120 lideranças, integrantes de aproximadamente 60 comunidades das regionais Nordeste Paraense, Baixo Amazonas, Salgado, Tocantina e Guajarina, todas ligadas a Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará – Malungu. Esses encontros fizeram parte do cronograma de oficinas de “Sensibilização e Capacitação em Elaboração de Projetos Socioambientais para o Fundo de Apoio às Comunidades Quilombolas do Pará”.

As oficinas tiveram como objetivo inicial apresentar o Fundo Dema suas formas de financiamento de pequenos projetos, mas, principalmente, ajudar no fortalecimento dessas comunidades com ferramentas de elaboração de projetos que servirão não apenas para tentar acessar recursos do Fundo Dema, mas de outros fundos governamentais ou não governamentais disponíveis.

Nesse primeiro passo, como bem explicou Ângela Paiva, do Fundo Dema, deu para perceber as potencialidades das comunidades e ruas riquezas. Em uma dessas oficinas, uma das lideranças destacou que “onde existe uma comunidade quilombola na Amazônia, com certeza, existe também a preservação do meio ambiente”. Uma frase simples, mas que expressou uma outra realidade observada durante o trabalho, pois existe, segundo Ângela, na maior parte das comunidades visitadas, um respeito às tradições e ao meio ambiente, que se refletem no modo como pescam, caçam, usam os recursos florestais e, principalmente, no direcionamento dos projetos propostos.
 
Outra informação que evidencia a forte organização das comunidades é que do universo de 52 Organizações e Associações Quilombolas, localizadas em 17 municípios paraenses, que participaram das oficinas, mais da metade, ou seja, 33 delas, já possuem a certificação da Fundação Cultural Palmares e outras 3 já solicitaram a certificação e aguardam uma resposta da Palmares.
Lideranças quilombolas em uma das oficinas.

Baixa escolaridade traz inseguranças


Porém, as oficinas evidenciaram ainda uma triste realidade, a baixa escolaridade nas comunidades e por isso mesmo, o receio das lideranças em tentar elaborar projetos em busca de financiamentos. “Muitas lideranças temem não ter a capacidade técnica necessária”, refletiu Ângela. 
 
As oficinas do Fundo Dema tentam dar um início de resposta a esse embate, pois discute com as comunidades, passo a passo, todas as etapas da elaboração de projetos e mais ainda, estimula a que as potencialidades de cada comunidade sejam respeitadas e valorizadas, pois um projeto só dará certo, se houver relação de pertencimento da comunidade envolvida e fizer sentido aos anseios dessa comunidade.
 
Dessa forma, o Fundo Dema segue como agente estimulador de Justiça Ambiental, pois tanto os recursos do financiamento, como todo processo envolvendo as oficinas, visa a fortalecimento das comunidades na construção coletiva de conscientização de seus direitos e suas lutas.
 
Os frutos dessa articulação pautada nas parcerias e no respeito das tradições comunitárias começam a aparecer. Pois, mesmo com todas as dificuldades enfrentadas pelas comunidades e o pouco tempo entre a realização das oficinas e os prazos finais de envio de projetos para o Fundo Dema, pelo menos 10 comunidades enviaram propostas e estão concorrendo aos recursos da “Chamada Pública para Projetos Socioambientais para o Fundo de Apoio às Comunidades Quilombolas do Pará”.
Os 10 projetos inscritos ainda serão avaliados e a previsão é de que nos próximos meses sejam divulgados os selecionados.