Mulheres debatem feminismo e defesa do territóro
Por Élida Galvão
| O programa de formação fortalece o protagonismo das mulheres no cuidado com elas mesmas, com as outras e com o território.
Caminhando em um processo construtivo de empoderamento, mulheres de diversas localidades do Pará participaram de um encontro de formação, ocorrido no período de 20 a 22 de outubro, em Belém. A atividade integra o ‘Programa de Formação Mulheres e Territórios na Amazônia’, que é realizado pela Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE) – Programa Amazônia.
Durante os dois dias, cerca de 25 mulheres vindas dos municípios de Ananindeua, Abaetetuba, Igarapé Miri, Baião, Moju Miri, Barcarena e da Ilha do Marajó estiveram reunidas na capital para dialogar sobre feminismo em um sentido amplo, desde autoconhecimento com o corpo ao protagonismo na segurança alimentar e nutricional e defesa do território.
De acordo com Jaqueline Felipe, educadora da FASE Amazônia, esta formação é um processo educativo que tem por base a educação popular. “Utilizamos linguagens acessíveis, vídeos, imagens, textos. É importante envolver as mulheres em diversos debates, como o racismo, por exemplo, que é estruturante no capitalismo. Também no contexto de ameaça da Amazônia, as mulheres são as maiores impactadas”, diz.
Uma das formas de diálogo com as mulheres foi a utilização de técnicas de teatro. Jane Cabral, educadora popular e militante do MST apresentou a elas o ‘teatro do oprimido’ e por meio dele provocou a percepção delas com o próprio corpo. “Debatemos muito sobre o corpo enquanto mão de obra do capitalismo, mas às vezes o restante do corpo é invisibilizado. É importante tentar desmecanizar, provocar a libertação desse corpo”. A partir das dinâmicas trabalhadas, as mulheres também expuseram medos e ameaças em seus territórios. “Para a minha surpresa, ao trabalhar com uma máquina de ritmos, como a máquina do ódio e a máquina do medo, as mulheres demonstraram o ódio às queimadas e aos agrotóxicos, também apresentaram um trenzinho demonstrando medo das ferrovias. Por meio dos jogos falaram sobre suas realidades”, complementa Jane.
Vinda da comunidade quilombola de Umarizal, no município de Baião, Daniele Bendelac considera ter sido importante o encontro de formação. Para ela, as mulheres continuarão resistindo de forma coletiva no combate ao machismo e em defesa do território. “Foi fortalecedor participar do evento, saber que não estamos sozinhas e que juntas podemos resistir e até mesmo mudar nosso meio, principalmente empoderar outras mulheres que talvez estejam sem forças por estarem lutando e achando que estão sós”.
O programa de formação é realizado em parceria com Fundação Ford, Aktionsgemeinschaft Solidarirische Welt (ASW) e Fundação Heinrich Boll Stiftung (HBS). Esta é a segunda turma em formação, que conta com três módulos. Entre os módulos, as mulheres participam de intermódulos com atividades, onde assumem o compromisso de retornar às suas comunidades e partilhar conhecimentos com outras mulheres, desenvolvendo um processo de reflexão e avaliação.