Notícias

16/06/2014
Por: Equipe Fundo Dema
Assunto: Notícias
Leitura: 3 minutos

Fundo de Mulheres estimula a autonomia feminina no campo

Por Élida Galvão

Ascom Fundo Dema

“Ao desabrochar da roseira, surgiu a evolução. Mulheres brasileiras, transformaram esse pedaço de chão. Mostrando o quanto é importante para o homem e para a sociedade, seguiram mais adiante, elevando suas capacidades”. Este é um verso do poema de Selma Ferreira da Costa, moradora da comunidade Nova Canaã, no município de Belterra (PA). Uma mulher de 45 anos, agricultora, nascida em Campo Mourão, no Paraná, que junto com outras 60 companheiras participou do 3º Encontro do Fundo Autônomo de Mulheres Rurais da Amazônia, ocorrido durante os dias 10 e 11 de abril, em Santarém (PA).

A história de Selma se assemelha a de tantas outras mulheres que saíram de suas terras a sombra de um êxodo protagonizado pelos ‘homens da família’, migrando para a Amazônia em busca de melhores condições de vida. Enfrentando barreiras tradicionalistas, machistas e preconceituosas, as mulheres passam a despertar para um engajamento de ação coletiva em cooperativas e associações, nas quais se empoderam do exercício da autonomia.

Cerca de 60 mulheres da agricultura familiar estiveram presentes no terceiro encontro do Fundo

Durante os dois dias de encontro, mulheres de variadas origens – indígenas, quilombolas, ribeirinhas, extrativistas, pescadoras, agricultoras – participaram de oficina de capacitação em elaboração de projetos e também discutiram sobre a importância da comunicação no processo de mobilização e articulação da militância no campo. A atividade foi iniciada com mística de apresentação e em seguida foram relembradas as deliberações dos dois encontros anteriores, com o intuito de recuperar as principais tarefas previstas, bem como avaliar trajetória do trabalho que vem se desenvolvendo a cada encontro.

Bastante estimulada com o interesse do grupo, Graça Costa, educadora da Fase (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional)/Programa Amazônia e integrante do Comitê Gestor do Fundo Dema, acredita que “o Fundo se constituirá em um espaço de apoio às iniciativas das organizações de mulheres rurais na região, e também em um espaço de trocas de experiências e vida, de solidariedades mútuas para as necessidades próprias das mulheres”.

As participantes se reúnem para exercitar a elaboração de projetos para a 1ª Chamada Pública de Mulheres

A relação do feminismo com a agricultura

Enfrentando cotidianamente a violência simbólica e às vezes física, as mulheres do campo têm a importante missão de se unir e se politizar para barrar a dominação e exploração a que estão submetidas, e assim construir outros modos de vida ao lado de seus companheiros. Porém, esta não é tarefa das mais fáceis. Sem acesso a créditos e a meios de produção, o papel da mulher acaba sendo confundido com a ‘obrigação’ da atividade doméstica.

Selma Costa compartilha poema de sua autoria em homenagem às mulheres

Além de enfrentar o agronegócio, as mulheres ainda têm de enfrentar o machismo, que é um dos muitos instrumentos de dominação do capitalismo. Por isso o feminismo no campo se faz necessário, para que a mulher consiga enfrentar o preconceito presente dentro e fora de sua casa. Nesse sentido, discutir a questão de gênero no ambiente rural é oportunizar a conquista de espaço às mulheres para além das tarefas do lar, empoderando lideranças e estimulando o empreendedorismo, o que na maioria das vezes é desempenhado pela figura masculina.

Fundo Dema acolhe Fundo Autônomo de Mulheres

Percebendo a necessidade de estimular o protagonismo feminino na atividade produtiva do campo, o Fundo Dema/Fase Programa Amazônia adotou o Fundo Autônomo de Mulheres Rurais da Amazônia como meio de fortalecer a independência destas diante de uma herança patriarcal e de uma cultura de submissão, responsáveis por limitar a participação política delas e firmar ainda mais a divisão sexual do trabalho.

Sendo assim, com o principal objetivo de fortalecer a autonomia econômica das mulheres rurais, o ‘Fundo Luzia Dorothy do Espírito Santo’ foi criado em fevereiro de 2014 e atualmente encontra-se em processo de formação, promovendo oficinas de capacitação às integrantes, para que possam elaborar projetos a serem submetidos ao primeiro Edital, lançado em 14 de maio de 2014. O nome foi escolhido em homenagem a três lideranças do campo: Luzia Fati, Dorothy Stang e Maria do Espírito Santo; mulheres lembradas pelo legado de luta, resistência e coragem em favor da agricultura familiar, da preservação da floresta em pé e contra o avanço do agronegócio na Amazônia.


Acesse aqui o 1º Edital do Fundo Autônomo de Mulheres Rurais da Amazônia