Fundo Dema realiza ação de solidariedade no bairro da Terra Firme, em Belém
Ato político denuncia a situação de fome e insegurança alimentar no país
Por Élida Galvão
Considerado um dos bairros mais populosos de Belém (PA), com mais de 60 mil habitantes, o bairro da Terra Firme acolheu uma grande ação de solidariedade envolvendo distribuição de cestas de alimentos e a realização de um banquetaço servido na rua aos moradores de moradoras da localidade.
Durante a tarde do dia 04.08, centenas de famílias do bairro estiveram presentes no salão paroquial da Igreja Santa Maria de Belém, onde foram distribuídas 500 cestas de alimentos. Uma extensa variedade de verduras, legumes, frutas, além de ovos, feijão, arroz e farinha compunham as cestas, totalizando 10 toneladas de mantimentos. A maior parte dos alimentos fora produzida por 15 agricultores e agricultoras familiares associados à Associação de Produtores de Hortifrutigranjeiros da Gleba Guajará (APHA), sendo 11 do bairro do Curuçambá, localizado no município de Ananindeua (PA), e outros quatro do município de Santa Izabel do Pará.
De acordo com Francisco Batista, representante da Campanha Terra Solidária, do Coletivo Tela Firme e do Chalé da Paz, a ação envolveu cerca de 30 pessoas voluntárias e 12 organizações beneficiadas. “Quinhentas cestas básicas alcançaram uma média de 2 mil pessoas, considerando que há uma média de quatro pessoas por domicílio. Esse foi um gesto necessário e importante em um período tão difícil que o Brasil vem enfrentando, estando no mapa da fome”, considerou.
Atuando de forma voluntária, Eurídice Resque, moradora do bairro e integrante da pastoral social da Paróquia Santa Maria de Belém, diz que mesmo chegando a uma parcela da comunidade, a ação se faz importante para alimentar famílias em situação de vulnerabilidade socioeconômica. “Essas cestas que vão chegar nas mãos da nossa comunidade carente, de pessoas desempregadas, que dependem de atitudes como estas, são importantes para saciar a fome nesse momento tão difícil que nós estamos passando. Se cada um fizer um pouquinho já vai ajudar as pessoas que estão passando fome”.
Catador de latinha, Osvaldo Corrêa consegue fazer uma renda diária de 20 a 30 reais. Para ele, o recebimento da cesta de alimento contribui para a garantia da alimentação familiar por pelo menos duas semanas. “Essa é uma ajuda muito grande mandada por Deus. Eu não tenho salário e não sou aposentado, a minha renda não dá pra nada, não dá pra comprar uma carne. Uma ajuda dessa é muito bem-vinda, se Deus quiser vai dá pra gente se alimentar por duas semanas”, relata.
Com seu filho pequeno no colo, Rosilene Vasconcelos também se fez presente na paróquia para garantir a alimentação da família, “Meu esposo trabalha no Ver-o-Peso, tem dia que dá e tem dia que não dá nada, a gente se sustenta pelo Bolsa Família, que eu agradeço muito a Deus que tem mais de ano que eu recebo e mais esse aumento vai ajudar muito. Moro com meu marido e mais três filhos e ainda cuidamos de uma senhora idosa que não tem parente e a gente pegou pra morar com a gente. Essa cesta veio em boa hora”, diz.
Banquetaço Solidário denuncia o retorno ao Mapa da Fome
No último sábado (06.08), a passagem Comissário amanheceu agitada com a realização do Banquetaço Solidário, um ato político para denunciar a situação de fome e a insegurança alimentar e nutricional no país. Mais de 300 refeições foram servidas próximo ao Chalé da Paz. O ato se somou à ação de combate à fome na Terra Firme.
A comida foi preparada por voluntários e voluntárias da Campanha Terra Solidária, da Paróquia Santa Maria de Belém e por comunitárias do entorno. O cardápio foi composto por feijoada, carne suína, carne de frango, salada e suco, totalizando 2 toneladas de alimentos, a maioria produzida de forma agroecológica por agricultores e agricultoras assentados do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST).
De acordo com Graça Costa, além de promover a segurança alimentar e nutricional, as ações de solidariedade de combate à fome também valorizam a agricultura familiar. “As ações de solidariedade não se traduzem apenas na entrega de alimentos, mas nesse momento de retorno do Brasil ao mapa da fome, de insegurança alimentar e de grande índice de desemprego, a ação também vem valorizar a agricultura familiar e a alimentação saudável”.
“Esse também é um momento para dialogar porque voltamos ao Mapa da Fome. A gente precisa se unir, resistir e lutar por uma sociedade onde a gente tenha alimento de verdade na nossa mesa, onde a gente tenha dignidade, democracia, onde a gente tenha espaço para falar, denunciar esse Estado. Este é um momento muito importante porque durante as eleições a gente têm a oportunidade de fazer uma mudança”, disse Simy Corrêa à comunidade. “Alimentação é um ato político. Estamos aqui para denunciar esse estado de fome, mas também para anunciar que quem coloca alimento de verdade na nossa mesa é a agricultura familiar e não o agronegócio”, complementou.
Tendo se alimentado no ato Banquetaço, Cristiane Matos destacou a realidade de muitas pessoas que ali estavam. “Participei também e vi muitas crianças se alimentando. A gente sabe que na realidade muitas vezes essa é a primeira alimentação do dia. Já passei fome e sei que a fome dói e dói mais quando um filho pede uma coisa pra gente e a gente não tem pra dar. A gente prefere passar fome pra dar o sustento pra eles”, lamenta.
Fã de uma alimentação saudável, Maria Raimunda Sousa se beneficiou da cesta de alimentos e no sábado voltou para participar do almoço coletivo. “Eu dividi a cesta de alimentos com a minha filha, e hoje vim almoçar aqui. Comi muito legume, eu gosto de legume, verdura. Tava tudo muito gostoso, e o bom que é tudo natural, sem agrotóxico”, ressaltou.
Projeto de Vida
A iniciativa recebe o apoio da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE) e Fundo Dema, em parceria com Open Socity, por meio do projeto ‘Banquetaço Agroecológico: agricultura familiar contra a fome’, que tem realizado diversas ações de distribuição de alimentos e banquetaços solidários em várias cidades do Pará, como Belém, Ananindeua, Cametá, Abaetetuba, Barcarena, Santarém, Altamira, Placas, Anapu e Uruará.
Considerando a ação realizada na Terra Firme, somamos um total de 65,4 toneladas de alimentos já distribuídas em todas as ações, com 3.700 cestas doadas, tendo beneficiado mais de 3.700 famílias, haja vista que muitas vezes uma cesta é compartilhada pelas pessoas beneficiadas com outros grupos familiares.