Mulheres da Amazônia fortalecem a agroecologia
Por Élida Galvão
Fundo Dema
Reunindo mulheres agroextrativistas de diversos estados que compõem a Amazônia brasileira, a oficina ‘Fortalecimento de Práticas Agroecológicas por Mulheres em Unidades de Produção Familiar da Amazônia’, realizada em Belém, no dia 29 de setembro, em meio à programação do IX Congresso Brasileiro de Agroecologia, permitiu a troca de experiências e possibilitou reflexões sobre o papel da mulher a partir de sua realidade na Amazônia, atuando para um desenvolvimento sustentável pautado na autonomia e equidade de gênero.
Mulheres se articulam pela autonomia e para o fortalecimento da agroecologia
A realização da oficina foi resultado do encontro de mulheres da Amazônia, que ocorreu entre os dias 28 de setembro a 1º de outubro. Ao todo, cerca de 50 mulheres vindas do Amazonas, Amapá, Acre, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Tocantins, estiveram reunidas no auditório da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Durante os dois primeiros dias de encontro, as participantes debateram sobre o protagonismo feminino frente às lutas sociais, suas participações na produção agroextrativista para a segurança e soberania alimentar, além de denunciarem os impactos do modelo hegemônico de produção no campo, centrado no mercado na vida das mulheres.
De acordo com Cláudia Pojo, educadora da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE) – Programa Amazônia, a oficina possibilitou dias de reflexões sobre os desafios que as mulheres encontram em seus territórios, ampliando o debate da agroecologia para além de uma perspectiva econômica, mas aliada à questão de gênero e ao aspecto cultural, incluindo a relação de jovens e crianças com o campo e com a floresta.
Agricultora rejeita o uso de agrotóxicos
“É importante considerar a realidade em que estão inseridas as mulheres da Amazônia. São mulheres que moram na floresta, tem as mulheres das águas, da roça, dos quintais e, acima de tudo, é necessário ter políticas públicas que respeitem o tempo e a rotina dessas mulheres, que é bem diferenciada a dos homens”, disse Cláudia.
Ao compartilhar com as companheiras ali presentes sobre suas atividades diárias, dona Niceias Araújo afirmou que toda a sua produção de subsistência não requer o uso de defensivos agrícolas. “A gente não trabalha com agrotóxico. A gente planta com a força da natureza mesmo”, disse a senhora que atua na comunidade Sítio São Miguel, localizada no município de Maraã, no estado do Amazonas.
Carta coletiva é entregue ao Ministro do Meio Ambiente
Todo esse processo de reflexão culminou na produção coletiva de uma carta das mulheres da Amazônia que denuncia as opressões vivenciadas por estas mulheres e elenca proposições para a garantia do bem viver no ambiente rural. Ao final do encontro o documento foi entregue o Ministro do Meio Ambiente, Patrus Ananias.
Trocas
Durante a programação do Congresso de Agroecologia, as mulheres puderam expor seus produtos artesanais e trocar relações com outros grupos agroextrativistas, com participantes do congresso e consumidores. Entre os produtos comercializados, destacam-se farinha empanada, mel, bolos de frutas regionais, temperos artesanais, oléos de andiroba e copaíba, além de tapeçaria de fibras e objetos de miriti.
Articulação
O intercâmbio entre as mulheres da Amazônia é resultado do projeto ‘Fortalecimento de Práticas Agroecológicas por Mulheres em Unidades de Produção Familiar da Amazônia’ desenvolvido por meio do Programa de Pós Graduação em Agriculturas Amazônicas – Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Pará (UFPA), que conta com a parceria da FASE – Programa Amazônia, da Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão (ASSEMA) e da Rede de Mulheres Empreendedoras Ruarais da Amazônia (RMERA).
Clique na imagem para ler a carta elaborada pelas mulheres