Criado em 2014, o Fundo Autônomo de Mulheres Rurais da Amazônia Luzia Dorothy do Espírito Santo é um fundo especificamente voltado ao fortalecimento de projetos coletivos de mulheres da região do Baixo Amazonas. Sua constituição visa o fortalecimento de grupos de mulheres em defesa da igualdade de direitos. Para isso, busca promover a autonomia das mulheres e suas organizações por meio do apoio a iniciativas produtivas e de articulações políticas coletivas. O nome do Fundo homenageia três importantes mulheres que protagonizaram uma história de luta e coragem em defesa da floresta e dos povos da Amazônia.
Luzia de Oliveira Fati – Líder sindical, sempre esteve comprometida com a causa da justiça socioambiental. Sua trajetória é pautada na luta por uma sociedade justa, democrática e igualitária. Foi a primeira mulher a presidir o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém, que nomeia seu auditório com o nome desta consagrada militante. Também ajudou na fundação do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Belterra. No período entre 2005 a 2012, atuou no Instituto Sócio Ambiental de Santarém (ISAN), que depois passou a ser denominado Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA). Vítima de um infarto fulminante, Luzia Fati faleceu aos 42 anos, no dia 04 de março de 2013, em Macapá (AP), lugar em que a época residia.
Dorothy Stang – Popularmente conhecida como Irmã Dorothy, a religiosa norte-americana naturalizada brasileira foi brutalmente assassinada em 12 de fevereiro de 2005, aos 73 anos, no município de Anapu (PA), localizado na região da Transamazônica. Ela atuou por aproximadamente três décadas junto aos trabalhadores e trabalhadoras rurais da região do Xingu. Sua militância aguerrida em defesa da democracia no campo incomodava os latifundiários da região, tanto que dois deles, Vitalmiro Bastos de moura, o ‘Bida’, e Regivaldo Pereira Galvão, o ‘Taradão’, chegaram a cumprir as promessa de ceifar a vida desta grande mulher, ordenando a seus capangas a brutal execução de Ir. Dorothy.
Maria do Espírito Santo – Também vítima da violência e impunidade no campo, esta mulher foi uma grande defensora da Amazônia e de seus povos. Juntamente com seu companheiro, José Cláudio, enfrentava a exploração madeireira no sudeste do Pará, com frequentes denúncias de serrarias, carvoarias e de transportes clandestinos espraiados pela floresta, além de ações de latifundiários contra as famílias assentadas e pequenos agricultores. Pelo incomodo que causava aos madeireiros, latifundiários e posseiros, em 24 de maio de 2011, o casal extrativista foi covardemente assassinado em uma emboscada no meio da floresta, a 50 km do município de Nova Ipixuna, no Pará.
Os objetivos do fundo Autônomo de Mulheres Rurais da Amazônia são:
I – Fortalecer a cidadania e a autonomia econômica das mulheres e suas organizações, apoiando iniciativas de sistemas de produção de base ecológica e orgânica da Produção e Agricultura Familiar e de povos e Comunidades Tradicionais de modo a ofertar à sociedade produtos diversificados, diferenciados e sem contaminantes, gerando renda às mulheres e suas famílias;
II – Apoiar ações de capacitação envolvendo mulheres representantes de grupos, movimentos sociais e de mulheres que abordem também temas relativos aos direitos das mulheres rurais, como: regularização de suas associações autônomas, história das lutas das mulheres na região amazônica, lugar e participação das mulheres nos espaços de decisão de políticas, viabilidade econômica e agregação de valor aos produtos dos trabalhos das mulheres, políticas de crédito, assistência técnica, organização produtiva, compras governamentais, cooperativismo e associativismo e demais políticas públicas que correspondam aos anseios das mulheres, entre outros;
III – Apoiar a elaboração e disseminação de diagnósticos sobre as organizações de mulheres e as políticas públicas a elas dirigidas nas regiões de atuação do Fundo, que contribuam para identificar e visibilizar as organizações produtivas de mulheres, além de orientar estratégias e ações de fortalecimento para as mulheres rurais.
IV – Promoção e fortalecimento da agricultura familiar por meio da diversificação econômica, disponibilização de insumos produtivos tecnologias e conhecimentos, gestão de negócios, apoio à produção de base ecológica e orgânica, ao cultivo de plantas medicinais e fitoterápicas, bem como à organização e participação em feiras agroecológicas e feministas.
Contexto da criação
Em 2013, a Fundação Ford aprovou o projeto de incubação do Fundo Autônomo de Mulheres Rurais da Amazônia. O processo de criação do Fundo é desenvolvido com a participação coletiva das mulheres, cuja metodologia é pautada na sensibilização e empoderamento destas, para que se sintam parte integrante do Fundo.
A incubação teve como desenvolvimento a realização de três encontros realizados em Santarém, com representantes de organizações, sindicatos, movimento e grupos de mulheres indígenas, quilombolas, ribeirinhas, artesãs e agricultoras. Foram debatidos os objetivos do Fundo, critérios e regras para a apresentação de projetos à concorrência do Edital. Foi durante a realização do segundo encontro que as mulheres intitularam o Fundo como ‘Luzia Dorothy do Espírito Santo’, em homenagem às três grandes lideranças acima mencionadas, que lutaram pelos direitos dos Povos da Floresta.
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