História

Quem foi Dema?

Ademir Federicci, o Dema, é mais um mártir da luta pelos povos do campo e da floresta, na região Norte do Brasil. Sua história começou no último dia de março de 1959, quando o casal Josefa e Alcides Federicci recebem com alegria o nascimento de mais um filho, no Sul do país. Deram-lhe o nome de Ademir, e que mais tarde tornou-se Dema para os amigos e companheiros de militância.

Para a família Federicci e milhares de outras pessoas, uma outra data jamais será esquecida: o dia 25 de agosto de 2001, quando um tiro atravessou a madrugada de Altamira, no Oeste paraense, e calou a voz do grande líder Dema.

Ademir chegou à Transamazônica (Km 75 – Medicilândia) junto com sua família no ano de 1975. Desde então, teve sua trajetória de vida marcada pela atuação em diversos movimentos e lutas sociais, entre elas, a coordenação da Pastoral da Juventude (PJ). Foi um dos fundadores do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município (STR) e do Movimento Social Regional (MPST). Em seus anos de militância foi vereador do PT e sempre denunciou a retirada ilegal de madeiras em terras indígenas e fraudes na SUDAM. 

No início dos anos 2000, período de seu brutal assassinato, liderava um grande movimento de resistência à construção do Complexo Hidrelétrico do Belo Monte (CHE Belo Monte). Após sua morte, o mundo tomou conhecimento de sua trajetória brilhante nas lutas para humanizar a vida no projeto de colonização na Transamazônica, luta travada desde chegada ao Norte, no final dos anos 70. 

A voz firme de Dema animou milhares de pessoas para tentar manter a rodovia Transamazônica e suas vicinais em condições de tráfego, de forma a assegurar educação e saúde e, na última década, para proteger as áreas de florestas, os rios e as terras dos índios da ganância de grileiros e empresas destruidoras.

Dema liderou três caravanas da Transamazônica a Brasília, sendo que em uma delas, ocorrida em 1992, 300 pessoas da região escreveram com seus corpos “A Transamazônica não pode esperar” na rampa do Palácio do Planalto. Fruto desse ato, conseguiram recursos para tirar a rodovia do esquecimento, recuperando a estrada e ampliando os serviços de saúde e educação. Esse foi o grande marco do Movimento pela Sobrevivência na Transamazônica (MPST), do qual Dema foi um dos líderes mais destacados. O protesto com a frase escrita em corpos, em Brasília, foi reencenado em agosto de 2001, porém, desta vez, para divulgar ao mundo a morte de mais esse mártir da Amazônia.

Como sindicalista, Dema esteve à frente da luta pelo crédito bancário a partir de 1992, participando das mobilizações em todos os “Gritos do Campo” e “Gritos da Terra Brasil”. Coordenador do Movimento pelo Desenvolvimento da Transamazônica e Xingu (MDTX, ex-MPST), ele estava à frente de 113 organizações rurais e urbanas, empenhadas no projeto regional conhecido como “Consolidação da Produção Familiar e Contenção dos Desmatamentos na Transamazônica e Xingu”.

De seu casamento com Maria ganhou os seus quatro filhos, os quais dizia ser sua inspiração para a luta por justiça e dignidade para todos os povos. Mas foi na frente da mulher e dos filhos que ele foi covardemente assassinado.

Assim, o Fundo Dema é nomeado em homenagem a este homem e tantos outros, homens e mulheres, que lutaram e ainda lutam por justiça socioambiental na Amazônia.

Em agosto de 2021, completaram-se 20 anos deste assassinato cruel. Os movimentos sociais e organizações da região da Transamazônica/Xingu lançaram uma campanha de homenagens ao Dema denominada ‘Jornada de Homenagens, 20 anos de saudade – DEMA VIVE!’.

A campanha teve diversas ações em tributo ao mártir, entre elas, o envio de ‘Cartas ao Dema’, a realização de um seminário virtual, e o plantio de árvores em continuidade à ‘Campanha Permanente Fundo Dema Planta Vida na Amazônia’, iniciada pelo Fundo Dema em 2018, momento em que celebramos seus 15 anos.

Acesse aqui a página de homenagens ao Dema: https://www.facebook.com/DEMAVIVE

História

FUNDO DEMA é um fundo de justiça socioambiental criado em 2003, que apoia projetos coletivos dos “Povos da Floresta – povos indígenas, quilombolas, comunidades extrativistas, ribeirinhas e da agricultura familiar”, que visem a valorização socioambiental dessas populações, assim como a preservação do Bioma Amazônico, prezando pelo respeito à sociobiodiversidade, pela garantia plena dos Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais – DhESCA’s, pela Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, pela equidade de gênero, pela valorização e respeito à auto identidade e a diversidade e pluralidade cultural e religiosa.

O Fundo é resultado da luta e da conquista das organizações e movimentos sociais da Amazônia Brasileira, que se materializou por meio de um processo bem sucedido de parceria desses atores sociais, mais o Ministério Público Federal e o Governo Brasileiro.

Sua história tem origem em 2003, quando cerca de seis mil toras de mogno, madeira nobre da Amazônia, extraídas ilegalmente, foram apreendidas pelo IBAMA. Grande parte da madeira havia sido retirada dos municípios de Altamira e São Félix do Xingu.

Por meio da pressão social e mediação do MPF, o Ibama doou a madeira à sociedade civil como uma forma de reconhecer e fortalecer as comunidades das quais o produto havia sido extraído ilegalmente.

Por pressão dos movimentos sociais organizados na região da Transamazônica e Xingu, a madeira foi doada e o valor arrecadado com a venda, foi convertido em um fundo fiduciário, vitalício, do qual os rendimentos são investidos por meio de publicação de Editais, para apoiar projetos socioambientais, inicialmente da região da Transamazônica Xingu e, posteriormente, se estendendo às regiões do Baixo Amazonas e BR-163, no entorno de Itaituba, áreas de onde saiu a madeira ilegal e que historicamente tem sido palco da luta desigual pela terra entre fazendeiros, madeireiros, grandes projetos e agricultores familiares camponeses, extrativistas, povos indígenas e comunidades quilombolas.

Após consulta na região, os movimentos sociais elegeram a Ong FASE para ser a responsável jurídica e administrativa do Fundo Dema, função quem cumpre até hoje, junto a um coletivo de organizações sociais que compõem o Comitê Gestor. O Comitê Gestor é fortalecido por um Conselho Consultivo formado por representantes das áreas de atuação do Fundo Dema.

Com o passar dos anos, o Fundo Dema ampliou a sua área de atuação e apoiou a criação de fundos específicos, os quais seguem um caminho autônomo. Em 2014 foi criado o Fundo Autônomo de Mulheres Rurais da Amazônia Luzia Dorothy do Espírito Santo; em 2018, foi a vez do Fundo Socioambiental Barcarena e Abaetetuba; em 2022, foi oficializada a criação do Fundo Quilombola Mizizi Dudu e, atualmente, uma Articulação Indígena segue com o plano de reavaliar a permanência do Fundo Indígena do Xingu, criado em 2009.

Cada Comitê Específico possui seus comitês gestores específicos, cuja representatividade se faz presente no Comitê Gestor do Fundo Dema.


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